Banco de Alimentos destina frutas e legumes que não atendem padrões estéticos para famílias carentes
Uma batidinha, uma manchinha de ferrugem, ou até um tamanho diferente, já fazem o consumidor repensar uma compra. Até parece que estou falando de carros, mas esses são critérios de escolha para alimentos, como frutas, legumes e verduras. De acordo com a 18ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro de Supermercados, feita em agosto de 2018 pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados) as perdas sobre o faturamento do setor somaram mais de R$6,4 bilhões. Só com os FLV (Frutas, Legumes e Verduras) o índice de perda chegou a quase 6%.
Apesar da diminuição de R$54,2 milhões das perdas gerais nos supermercados em 2017 em relação a 2016, ainda de acordo com a Abras. No ano passado foram desperdiçados quase R$4 bilhões nas seções açougue, hortifruti, padaria e peixaria. Alimentos que, muitas vezes, ainda estão bons para o consumo, é o que conta, em nota, o Banco Municipal de Alimentos de São Bernardo do Campo.
Criado em 2011, e em atividade nos últimos cinco anos, o Banco conta com supermercados parceiros da região para recolher alimentos, que seriam descartados por estarem fora dos padrões de comercialização, mas que ainda estão bons para o consumo. Depois de recolhidos, os alimentos passam por uma nova seleção, supervisionado por nutricionistas do órgão. Os alimentos selecionados são separados e encaminhados às entidades assistenciais e aos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), os quais atendem famílias e pessoas em condição de vulnerabilidade social. E a seleção das famílias atendidas é feita por técnicos de cada centro e entidade.
“Hoje em dia, as pessoas vão muito na linha do convencional, a questão do produto bonito, então, a pessoa quer comprar um produto intacto e grande, e não quer saber se ele recebeu uma chuva de agrotóxico para ficar daquele jeito.”, explica, Maurício Nogueira.
O Banco, que atende uma média mensal de 30 entidades assistenciais, as quais ajudam cerca de 1.600 famílias, 190 idosos, 530 crianças/adolescentes e 900 adultos, além das famílias atendidas pelos CRAS e CREAS, no munícipio, explica que o desperdício dos alimentos acontece antes de chegar ao consumidor, nas etapas de colheita e transporte. E completa que além do nível elevado de exigência do consumidor em relação à qualidade e aparência dos alimentos, os mercados têm excesso de estoque, necessidade do cumprimento da data de validade dos produtos conforme estabelece o Código de Defesa do Consumidor e condicionamento inadequado dos produtos.
Mas, não foi só o Banco de Alimentos que viu uma forma de reaproveitar os alimentos que seriam desperdiçados. Maurício Nogueira, 46 anos junto com seu sócio Luciano Maeda, 42 anos, fundaram a Orgânicos do ABC em 2016, a empresa localizada na região focada na comercialização de alimentos orgânicos, quando perceberam que de 10 caixas de alimento, em média duas eram perdidas, seja por estragarem no caminho ou porque a estética dele estava fora do padrão. “Hoje em dia, as pessoas vão muito na linha do convencional, a questão do produto bonito, então, a pessoa quer comprar um produto intacto e grande, e não quer saber se ele recebeu uma chuva de agrotóxico para ficar daquele jeito.”, explica.
Nogueira conta que, de acordo com a legislação, todos os produtos orgânicos devem ser embalados para evitar a contaminação, mas, muitas vezes, por se tratar de alimentos naturais e de pequenos produtores, alguns chegavam em tamanhos que não cabiam nas bandejas ou com alguma manchinha e eram descartados. Com a percepção da grande perda que o padrão gerava para a empresa, os sócios tiveram a ideia de processar os alimentos que chegavam fora do esperado, e hoje, acrescentaram cerca de 30 novos produtos no catálogo, como espaguete de cenoura e abobrinha italiana, ou um mix de legumes cortados para levar comer no caminho. “O público gosta muito de praticidade, elas preferem muito mais algo já higienizado cortado, a ter que cortar e lavar tudo.”, relata.
DESPERDÍCIO NO MUNDO
Apesar de iniciativas como essas para diminuir o desperdício de alimentos. As ações têm de vir de forma ampla, na questão da educação da população. A perda de alimentos vem desde o produtor até o consumidor final. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) um terço de todo alimento produzido no mundo é desperdiçado, 28% é perdido no processo de produção agrícola e mais 28% são descartados na casa das pessoas. Enquanto a meta da ONU para 2030 é reduzir em 50% o desperdício de alimentos, o Brasil se encontra em 10º lugar dos países que mais desperdiçam. A mudança começa na casa de cada um.
*Esta matéria foi publicada originalmente no Portal do Rudge Ramos Online
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