Brasil é o terceiro país com maior incidência da doença no mundo, com 10 mil novos casos por ano
“Foi um susto tremendo, meu filho nunca havia ficado doente por nenhum motivo, nosso mundo desabou…”, relata Erika Moura, autônoma de 42 anos e mãe do João Gabriel, de 9 anos. Ela descobriu, em setembro deste ano, que o filho tinha diabetes tipo 1 e ainda se recupera do susto da descoberta. O número de crianças diabéticas têm aumentado no mundo, de acordo com o Atlas do Diabetes de 2017, da Federação Internacional de Diabetes. No ano passado, a estimativa era de que mais de um milhão de crianças e adolescentes (menores de 20 anos) estavam diagnosticadas com a doença, sendo mais de cem mil desses casos descobertos somente naquele ano.
E, infelizmente, o Brasil ocupa lugar de destaque nesse cenário, sendo o terceiro país com maior número de novos casos no mundo. São quase 10 mil novos diagnósticos por ano e 88.300 crianças vivendo com a doença até 2017.
O diabetes afeta a forma como o organismo transforma a glicose em energia. De acordo com a endocrinologista Fernanda Gomes, os diabetes tipo 1 e 2 são os mais comuns.
O Diabetes Tipo 1 (D1) é uma doença autoimune, na qual, por motivos diversos, a depender de cada caso, o organismo produz anticorpos que atacam as células do pâncreas responsáveis pela produção da insulina (hormônio que regula e transforma os açúcares e carboidratos que ingerimos em energia para o corpo), ou seja, o organismo ataca as células que produzem a insulina, o que faz com que a taxa de glicemia fique alta e esse controle tenha que ser feito de outra forma.
“A manutenção de um peso saudável para a altura é importante para todos os tipos de diabetes. E todos vão se beneficiar de mudanças de hábitos para um estilo de vida mais saudável, com alimentação equilibrada e mais natural, e menos alimentos processados”, explica a endocrinologista Fernanda Gomes.
Foi o que aconteceu com Erika e seu filho João. Ela conta que a criança começou a se sentir mal, com dores fortes no estômago e isso foi o alerta para levá-lo ao pronto-socorro. Mas, o diagnóstico só veio na terceira visita ao hospital, quando a glicemia estava tão alta que João teve de ser internado. “Levei a primeira vez na UPA, próxima da minha casa e receitaram uma medicação para gases. Na segunda vez foi tratado como se tivesse comido algo que não caiu bem. Quando voltamos pela terceira vez é que fizeram o exame de taxa de glicemia e o resultado foi de 504 mg/dl (miligramas de glicose por decilitro de sangue). Ficamos desesperados…”. A endocrinologista explica que um exame de glicemia de um não diabético tem que resultar em até 125 mg/dl. Valores acima disso podem ser considerados preocupantes e deve-se conversar com o médico do paciente.
Com a nutricionista Mariana Guidorizzi, 38, a descoberta também foi no susto. Ela conta que a filha Valentina, de dois anos e sete meses, estava brincando há dez meses quando caiu e teve uma convulsão. Mariana a levou à UPA do Rudge Ramos e a criança estava com a taxa de glicose maior que 600 mg/dl, entrando em coma diabético. “Mas, ela não teve os sintomas normais, foi de repente”, relata.
A especialista Fernanda Gomes explica que os principais sintomas de altos índices de glicemia são vontade excessiva de urinar e grande volume de urina, boca seca, desidratação, aumento da sede, embaçamento visual, perda de peso e de sais minerais por conta do excesso de urina, o que também pode causar câimbras. Ela conta que podem ser verificados sintomas mais comuns a outras doenças, como dores no corpo e cansaço, que se amenizam ou somem após o controle da glicemia no sangue.
Mariana ressalta que nunca desconfiou da possibilidade de a filha ter diabetes, já que ninguém da família nunca teve esse problema de saúde. Hoje, a criança faz tratamento com insulina, e, com o controle alimentar, a nutricionista conta que a rotina de toda a família mudou depois do diagnóstico. A alimentação com controle de carboidratos fez com que os hábitos fossem transformados e isso afetou a todos, o que na visão de Fernanda é algo muito bom, pois faz com que a família toda mantenha hábitos mais saudáveis e pratique exercícios para incentivar as crianças. “A manutenção de um peso saudável para a altura é importante para todos os tipos de diabetes. E todos vão se beneficiar de mudanças de hábitos para um estilo de vida mais saudável, com alimentação equilibrada e mais natural, e menos alimentos processados”, explica.
Porém, esse controle pode trazer conflitos, já que as crianças, naturalmente, têm dificuldades para entender a necessidade de manter uma dieta saudável. Erika, por exemplo, não sabe o que fará quando seu filho pedir algum alimento que altere a taxa de glicemia no sangue. “Meu filho sempre comeu de tudo, por isso acho que meu coração vai doer muito, quando ele pedir algo e a gente não puder dar.”, conta. Já Mariana acha que será mais fácil para ela, já que a Valentina é pequena e pode acostumá-la desde cedo a comer alimentos mais saudáveis.
DIFERENÇAS
Uma confusão comum é achar que todo diabetes é adquirido e causado pelo consumo excessivo de açúcar. Porém, o Diabetes tipo 1 está ligado a uma falha estrutural do organismo. Já o Diabetes do tipo 2 é causado pelo excesso da glicemia no sangue, e uma insuficiência do pâncreas para a produção da insulina. A D2 é mais comum em adultos e, de acordo com a endocrinologista, responsável por 90% dos casos de diabetes no mundo. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde de 2017, o número de diagnósticos em adultos está aumentando. De 2006 a 2016 houve um crescimento de 60% no número de casos, o que representa que 9% da população brasileira já foi diagnosticada com diabetes.
O importante é lembrar que uma criança diabética necessariamente se torna um adulto diabético. A endocrinologista Fernanda relata que percebeu, dentro de seu consultório e em conversas com colegas, o aumento de casos de D1 em crianças, o que permite avaliar que essa porcentagem certamente aumentará. Apesar do diabetes não ter uma cura declarada, a médica relembra pesquisas na área e casos em que o Diabetes tipo 2 foi revertido, quando descoberto no início e tratado com exercícios físicos, boa alimentação e mudanças no estilo de vida. “Já no Diabetes tipo 1, cirurgias de transplantes de pâncreas têm mostrado bons resultados e estão sendo estudadas como possível cura para a doença”, explica.
*Esta matéria foi publicada originalmente no Portal do Rudge Ramos Online
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