No Brasil, aumento de notificações é identificado em homens jovens, gays e trans de 20 a 35 anos
A Unicef divulgou em agosto de 2018 uma pesquisa que aponta dados alarmantes sobre o crescimento de notificações do vírus HIV no mundo. O estudo mostra que a cada três minutos, uma moça de 15 a 19 anos é infectada com o vírus do HIV. Os dados alertam para o aumento dos casos no público adolescente. Em 2006, havia 2,4 diagnósticos para cada 100 mil habitantes. Em dez anos, esse percentual subiu para para 6,7 casos. Um aumento de 175%, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico 2017 do Ministério da Saúde.
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, o vírus está mais presente entre homens que fazem sexo com homens (HSH), homens homossexuais, usuários de drogas injetáveis, pessoas trans e travestis, internos em prisões e clínicas de tratamento e profissionais do sexo. Em São Bernardo, a Prefeitura não divulgou a faixa etária da população soropositiva, mas de 2013 até junho desse ano foram notificados 995 novos casos entre homens e 265 entre as mulheres. São quase quatro homens que convivem com o vírus para uma mulher na mesma situação.
O aumento no número das notificações de HIV entre o público jovem masculino foi percebido também pela médica infectologista do Hospital e Maternidade Brasil e Hospital Assunção, Patrícia Longo. "A maioria dos pacientes que tratam HIV comigo são homens entre 20 e 30 anos que fazem sexo com homens", afirma.
De acordo com a médica, atualmente a forma de transmissão mais comum é por meio de sexo desprotegido. "O vírus está presente no sangue, esperma e secreções vaginais. Mas também pode ser transmitido por transfusão de sangue, uso compartilhado de seringas, e de mãe para filho na gestação". Patrícia ressalta que a melhor forma de prevenção é o uso preservativo. “Atualmente, com os avanços no tratamento do HIV e a elevada expectativa de vida dos pacientes, as pessoas deixaram de se preocupar com a aquisição do vírus", comenta. Segundo a médica, cabe lembrar que a Aids é uma doença sem cura, com necessidade de tratamento para a vida toda.
A psicopedagoga Ariadne Ribeiro de 37 anos, é trans e portadora do vírus do HIV. Ela foi infectada quando tinha 18 anos quando foi violentada. Ela comenta que só descobriu a doença depois do segundo teste de HIV. “Era uma sentença de morte né. Na época, a pessoa tinha que estar com a imunidade bem baixa e a carga viral alta para tomar os remédios”. Sem perspectivas, ela entrou no mundo das drogas. Pouco tempo depois, sentindo-se mais lúcida, Ariadne começou o tratamento no Centro de Referência e Tratamento de DST Aids (CTR AIDS) de São Paulo, retomou os estudos, fez faculdade de psicologia e uma especialização em dependência química. Hoje, ela é doutoranda do programa de pós-graduação em Psiquiatria e Psicologia Médica da UNIFESP.
“Atualmente, com os avanços no tratamento do HIV e a elevada expectativa de vida dos pacientes, as pessoas deixaram de se preocupar com a aquisição do vírus", conta a médica infectologista Patrícia Longo.
A doutoranda vê o aumento nos casos de HIV também como um alerta para as mulheres. Para ela, apesar dos números mostrarem que a população HSH jovem é a mais afetada pelo vírus, os homens heterossexuais e usuários de substâncias psicoativas, por questões conservadoras, descobrem a doença tardiamente, o que afeta o público feminino diretamente. “As meninas mais jovens ficam bastante vulneráveis por conta de uma cultura machista que as impossibilita de exigir uso de preservativo, da banalização da virgindade, da multiplicidade de parceiros e até mesmo pelos aplicativos de relacionamento”, opina.
Ariadne também ressalta o papel da escola para auxiliar na prevenção e informações sobre a infecção. “A educação básica é impossibilitada de discutir questões de gênero e sexualidade por um conservadorismo que tem trazido muitos danos reais para o trabalho de prevenção das infecções sexualmente transmissíveis e HIV”. Nesse aspecto, a infectologista Patrícia Longo partilha da mesma opinião. Ela conta que estudou em uma escola religiosa católica, onde tinha aulas de educação sexual. "Isso impactou em minhas escolhas”, completa.
INDETECTÁVEL=INTRANSMISSÍVEL
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids ou Sida, em português) é uma doença que atinge e destrói as células do sistema imunológico do organismo. Ela é o último estágio da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e, se não tratado, pode levar à morte. Uma vez infectado pelo HIV, não há cura, nem extinção do vírus, o que significa que a pessoa que for infectada viverá com ele pelo resto da vida.
A doença não tem cura, mas felizmente tem controle e tratamento gratuito fornecido pelo SUS. De acordo com a infectologista Patrícia Longo, muitas vezes a infecção pelo vírus é assintomática ou pode apresentar sintomas específicos em cada pessoa. A médica ressalta a importância de fazer os testes fornecidos gratuitamente em postos de saúde. "Recomendo em casos de violência sexual, sexo desprotegido, uso de drogas injetáveis, ou transfusão de sangue".
De acordo com a UNAIDS, programa de combate e criação de soluções para a Aids no mundo, gerido pelas Nações Unidas, a terapia antirretroviral (ART) é o tratamento mais eficaz. Ele prolonga de forma expressiva a vida de milhares de pessoas que têm o vírus e muitas vezes, se iniciado nos primeiros estágios da infecção, é capaz de suprimir o vírus a níveis indetectáveis, o que, de acordo com as diretrizes do programa, tem potencial de impedir a transmissão.
O conceito de indetectável=intransmissível tem o objetivo de incentivar a população que convive com o vírus a buscar o tratamento, reduzindo a transmissão, e também acabar com o preconceito contra os portadores do vírus. De forma geral, se a pessoa portadora do HIV, mantiver o tratamento e chegar ao ponto de carga viral indetectável, as chances de transmissão sexual se iguala a zero, o que possibilita melhoria de vida aos indivíduos.
TESTE E ACONSELHAMENTO GRÁTIS EM SÃO BERNARDO
No município de São Bernardo, o Programa Municipal Infecções Sexualmente Transmissíveis/HIV/Aids/Hepatites Virais oferece teste e aconselhamento gratuito para a população, além de acompanhamento dos pacientes infectados.
Além do programa, são disponibilizados teste para hepatites virais e AIDS/HIV nas UBS do estado de São Paulo, assim como preservativos, orientação sobre Prep e PEP e atendimento aos públicos.
Aqui é possível consultar quais atendimentos são disponibilizados em cada UBS por município no estado de São Paulo.
Endereço: Policlínica Centro (Avenida Armando Ítalo Setti, 402 - Bairro: Baeta Neves E-mail: aids@saobernardo.sp.gov.br Telefone: 2630-6420 e 2630-6376 Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 7h às 19h.
*Esta matéria foi publicada originalmente no Portal do Rudge Ramos Online
**Matéria de vídeo produzida para o telejornal Direto da Redação, no qual também fui apresentadora. Assista!
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