Setenta por cento das quedas com maiores de 60 anos acontecem dentro da própria casa
“Por que você vai ter um tapete, se você não precisa dele?”, indignado, pergunta Ângelo Sentinelo. Com 72 anos, o morador do Rudge, questiona o motivo das pessoas colocarem tantos obstáculos dentro da própria casa e conta alguns casos em que amigos e parentes se colocaram em risco de alguma fratura por causa de má organização da casa, que segundo Sentinelo poderiam ser evitados com observação, prevenção e medidas simples.
O Brasil está envelhecendo. Com um aumento de 18% nos últimos cinco anos, o número de idosos no país ultrapassou a marca de 30 milhões, em 2017, de acordo segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios, divulgado pelo IBGE no início desse ano. E a projeção é que esse número dobre até 2042.
“Por que você vai ter um tapete, se você não precisa dele?”, pergunta Ângelo Sentinelo, de 72 anos.
Segundo o Ministério da Saúde, 70% das quedas de idosos acontecem dentro de casa. O número alerta para os cuidados com a colocação dos móveis, arranjo de tapetes e tipos de pisos. O arquiteto, especializado em habitação, Renato Andrade, explica que uma das medidas básicas para evitar quedas é proporcionar melhor iluminação e maiores pontos de apoio para essa pessoa idosa.
É o que faria a diferença para a Eliete Altheman de 61 anos. Ela costuma molhar suas plantas todos os dias, mas conta que um dia escorregou e caiu, fazendo a mesma tarefa que faz há anos. “Eu tenho o mínimo de coisas para não atrapalhar, nem tapetes, justamente por causa disso. Eu acho que a gente deve ter o máximo de espaço possível para circular”. Moradora de um apartamento pequeno, ela acredita na importância da organização e de pensar em modos de evitar deslizes como o que sofreu.
Andrade conta que para fazer os ajustes não custa muito, e o investimento pode ser acessível e proveitoso para o idoso que pensa em executar as reformas. O tempo varia de acordo com as condições da casa. Se for necessário adaptar uma casa muito pequena ao uso da cadeira de rodas ou andador, que são equipamentos que usam muito espaço, ele conta que o tempo de reparo é maior e que pode ser mais custoso. Mas que em geral, “é mais questão de atenção do que investimento, de fato”, já que podem ser retirados tapetes e melhoradas as iluminações.
Silvia Vitano Costa, 79 anos, preferiu fazer as mudanças na própria casa. Trocou os tapetes comuns, por antiderrapantes, colocou barras de apoio nos banheiros e eliminou diversos obstáculos que encontrava dentro de casa. Ela conta que enxergou como necessárias as mudanças depois ela e seu marido haviam caído dentro de casa, em episódios que a falta de equilíbrio e a presença dos tapetes ajudaram na queda. Orgulhosa, Silvia explica que pagou muito pouco para trocar os tapetes e que recomenda a mudança o quanto antes. “Alguns anos atrás eu não pensava nessas coisas, tinha bastante tapete, e não incomodava”. Hoje, com mais idade vê a importância de adaptar a casa as mudanças que vêm com o tempo.
O arquiteto ressalta que o envelhecimento do país deve trazer à tona a discussão de questões como morar bem e de pensar no futuro. “Em geral, as nossas casas são muito despreparadas para receber os idosos, porque, morar bem, na verdade, é morar com segurança”. Ele conta que a maioria das casas tem móveis altos, tapetes desnecessários, uma iluminação mais escura, ou pisos escorregadios, coisas que deixam os ambientes aconchegantes, mas que podem ser prejudiciais e provocar quedas. Aliás, indica que a arquitetura inclusiva não é sinônimo de feiura, e se encanta ao falar de projetos que trazem beleza e acessibilidade para seus clientes.
O Ministério da Saúde formulou uma cartilha com o objetivo de esclarecer dúvidas e dar dicas de como reformular a organização da casa e lidar com os locais de maior risco, acesse aqui.
*Esta matéria foi publicada originalmente no Portal do Rudge Ramos Online
Comments