top of page
Foto do escritorAndressa Navarro

FORÇA DE VONTADE: A LUTA DE QUEM DECIDE VOLTAR A ESTUDAR

Atualizado: 2 de jan. de 2021

Sentimento de estar no caminho certo motiva quem busca novas oportunidades

Alunos do EJA da escola Estadual Cynira Pires dos Santos, no Rudge, veem o estudo como chance de melhorar a qualidade de vida - Foto: Andressa Navarro/RRJ

Relatório da Organização de Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que, no Brasil, mais da metade das pessoas de 25 a 42 anos não possuem o certificado do Ensino Médio. O país registrou uma das maiores taxas de falta de formação básica entre os membros da organização. Os motivos para largar a escola são diversos, mas a dificuldade financeira é um dos principais. Para voltar a estudar, persistência e força de vontade são palavras-chave. E o Ensino para Jovens e Adultos (EJA) é uma opção.


No Rudge, uma das escolas que oferece o EJA é a Escola Estadual Cynira Pires dos Santos. Fornecido normalmente no período noturno, a modalidade resume os anos de ensino regular. Logo, se uma pessoa ingressa no EJA do Ensino Médio, por exemplo, e passar em todas as avaliações, em um ano e meio terá o certificado de conclusão.


José Antônio de Jesus, 56, é um dos alunos que cursa o EJA no Cynira. Vindo da roça, só havia feito um ano de escola, quando decidiu parar de estudar e começar a trabalhar para ajudar os pais com as despesas da casa. Veio para São Paulo, tentar uma vida melhor e, quando era jovem, não sabia nem escrever o próprio nome.


Atuante na Construção Civil, a vontade de ser reconhecido na própria área fez Jesus voltar a estudar. E, hoje, descobriu um prazer enorme em sua vida, o de aprender. “No começo, eu tinha medo de voltar com os estudos, mas agora, minha vontade é estudar, estudar e nunca mais parar”, conta. O sonho do morador de Taboão da Serra é conseguir terminar os estudos e ingressar numa faculdade. Não me preocupo com notas, não me preocupo com nada, eu quero é estudar. Estar no dia a dia dentro da escola e fazer minha faculdade. Esse é meu objetivo”.


Marina Ortega é professora de História e Geografia no EJA do Cynira - Foto: Andressa Navarro/RRJ

Outro aluno do EJA do Cynira, e que também precisou parar os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas familiares, é Tiago Miranda, 25. Ele conta que parou no primeiro ano do Ensino Médio, quando a rotina simultânea de estudos e trabalho ficou muito pesada. Cansado e sentindo que não se dedicava a nenhum dos dois de forma efetiva, Miranda decidiu que parar. No mercado de trabalho, viu que ter concluído os estudos faria toda diferença e lamenta ter perdido algumas oportunidades. “A importância do EJA para mim é a importância que o estudo tem na vida de todo mundo. A gente vive pelos nossos ideais, e não é que o estudo te faça melhor do que as outras pessoas. Eu acho que ele prepara para poder chegar lá, onde quer que seja”.


Apesar da força de vontade, Miranda explica que não é fácil, e que já teve vontade de desistir diversas vezes, até mesmo antes de fazer a matrícula. Mas, o sonho de melhorar a qualidade de vida o inspira a continuar. "Estudar é uma coisa que te pede foco, que você tem que se doar todos os dias. O que eu tenho em mente é que no final, quando estiver lá na frente, com tudo terminado, eu vou poder agradecer ter concluído o estudo”.


Assim como Miranda, Andréia Dias, 46, também cursa o EJA no Cynira, e sente vontade de desistir muitas vezes, por causa da distância e do cansaço. Moradora de São Paulo, ela conta que parou de estudar aos 16 anos, quando engravidou e se casou. Andréia já havia feito o supletivo particular, mas descobriu que seu certificado não havia sido reconhecido pelo MEC. Apesar de para Andréia, a formação não ter atingido diretamente a vida profissional, o ingresso no EJA veio como uma oportunidade que ela decidiu agarrar. "É um incentivo para você mesmo, no sentido de se autoconhecer. Tem dia que eu falo: ‘eu não vou’, porque tem dia que eu tenho vontade de desistir. Mas, então, eu falo: ‘falta tão pouco, e eu fiz tanto para conseguir tudo isso’, e acabo vindo novamente”.


METODOLOGIA


Marina Ortega, professora de História e Geografia do EJA do Cynira, explica que as metodologias aplicadas nessa modalidade são um pouco diferentes do ensino regular. Ela ressalta a importância da contextualização como parte do processo de ensino daquele adulto. “Os conteúdos ensinados em aula devem ser significativos para aquele aluno. Apesar de seguirmos o currículo do Estado de São Paulo, toda a dinâmica metodológica e estratégias a serem utilizadas são construídas a cada aula”.


Marina explica também que a dificuldade desses alunos é maior, e que, por isso uma relação de confiança entre a aluno e professor deve ser construída com transparência e respeito. “É importante o professor observar e seguir o ritmo da turma, para ocorrer o processo de aprendizagem e ensino”.


A professora ressalta também que muitos alunos desistem por causa das dificuldades de conciliar o trabalho e os estudos, mas que a escola batalha para evitar que essas evasões ocorram.

 

SERVIÇO


Rua Ângela Tomé, 134 - Rudge.

Tel.: 4368-3301

As matrículas para o EJA ocorrem sempre no início de cada semestre (nos meses de fevereiro e julho)

 

*Matéria produzida e diagramada para a disciplina Oficinas de Jornalismo no Quarto Semestre.

**Publicada posteriormente no Rudge Ramos Jornal na página 4.

1 visualização0 comentário

Comments


bottom of page