Lei foi aprovada em outubro do ano passado e permite o celular na escola para atividades pedagógicas
O uso de celulares na sala de aula sempre foi uma questão que incomodou diversos educadores e pais de jovens de todas as idades. A internet invadiu o cotidiano das pessoas e o smartphone se tornou a forma mais rápida de acessá-la. Hoje em dia, seja na fila do ônibus, do banco ou na mesa do restaurante, o celular sempre está presente. As crianças entram em contato com os aparelhos cada vez mais cedo e o utilizam a todo momento, levando esse comportamento para a sala de aula.
Em outubro de 2017, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o projeto de lei 860/2016, que permite o uso dos celulares nas escolas estaduais para fins pedagógicos. O projeto de lei estava em tramitação desde sua proposta em 2016, mesmo ano que saiu a pesquisa da Cetic (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) sobre o uso de celulares dentro do ambiente escolar. A pesquisa constatava que cerca de 52% dos alunos do Ensino Fundamental e do Segundo ano do Ensino Médio dos centros urbanos do país relatavam o uso do celular nas escolas para uso pedagógico, já no Ensino Médio foram 74%, os jovens que relataram o uso.
Aprovada em outubro, a lei só entrou em vigor 3 meses depois, momento de férias escolares. Quando entrevistados, os alunos da Escola Estadual Rudge Ramos afirmam que sempre usaram o celular na escola, desde que permitido pelo professor, seja para ouvir música ou fazer pesquisas referentes a matéria.
"Não dá mais para achar que o professor é o que sabe de tudo, muitas vezes, eles sabem mais do que a gente, o que é legal, porque gera a troca de conhecimento e esse é o objetivo da aula", conta o professor de Geografia Fábio Lorival ao falar sobre a relação professor/aluno.
Os professores afirmam que não teve diferença aparente no comportamento ou no modo como as aulas eram dadas, "na minha opinião não mudou absolutamente nada, só legalizou algo que já acontecia", conta o professor de história Diego Bruno da Silva, 28 anos. Ele explica que o uso do celular na sala só funciona com acordos entre professor e aluno, porque assim eles entendem quando podem ou não usar. "Quando eu estou explicando eu peco que guardem, mas para uma atividade, às vezes, eles pedem para ouvir música enquanto fazem, e, muitas vezes o resultado é muito bom e estavam de fone, então eu não vejo problema. Eu mesmo gosto de fazer as coisas ouvindo música". Diego usa um sistema visual com a imagem do celular, quando coloca uma tarja em cima da imagem, os alunos entendem que é hora de guardar o aparelho, mas quando não está com a tarja está liberado para o uso.
O professor de geografia Fabio Lorival, 38, diz que os professores devem saber lidar com a tecnologia e com os alunos e ter uma mente aberta para que o celular seja usado em momentos estratégicos e benéficos para a aula. Fabio defende que os aparelhos na sala de aula é bom, pois prende a atenção do aluno, mas diz que os professores devem ter a mente aberta "não dá mais para achar que o professor é o que sabe de tudo, muitas vezes, eles sabem mais do que a gente, o que é legal, porque gera a troca de conhecimento e esse é o objetivo da aula".
"Para fazer pesquisas é bom, mas tem que tomar cuidado, porque nem sempre todos da sala têm um celular com acesso à internet ou conseguem pagar um pacote de dados, e pode gerar desconforto na sala", conta o professor de história Ronivaldo Fernandes, 39. Ele acredita que os alunos deveriam ter aulas de como pesquisar na internet, "porque, muitas vezes, eles vão no primeiro resultado da pesquisa, e nem sempre é o melhor".
A escola, por estar dentro do Programa de Escola Integral, tem alguns recursos tecnológicos e restrições para contratação de professores, que devem ter algum conhecimento sobre tecnologias e o uso dos recursos disponibilizados, como os netbooks e a lousa digital. Além disso, ter uma mente aberta e fazer com que o tempo na escola não se torne maçante é um diferencial para manter a atenção dos estudantes.
A diretora da escola Ana Aparecida, 57, conta que em todas as escolas estaduais em que trabalhou, os professores permitiam o uso controlado do celular, e que a lei, na realidade, só regulamentou o que já acontecia nas escolas. Ela diz que na Lauro Gomes de Almeida há uma aceitação maior por se tratar de uma escola em período integral. Mas que nas escolas regulares há mais resistência por parte dos professores em inserir a tecnologia e o celular na sala de aula, "vivemos num mundo tecnológico e a inserção nas aulas era algo que estava previsto acontecer, mas tem professores muito resistentes a isso."
FORMAÇÃO E CONECTIVIDADE
Apesar de hoje saberem lidar com os celulares na sala de aula, Diego e Fábio contam que nunca tiveram formação para aprender a lidar com isso. Diego que terminou sua licenciatura em 2013, diz que na faculdade não preparam os professores, "o que temos de tecnologia na faculdade é a norma ABNT, tinha uma aula de internet também, mas ela basicamente ensinava 'olha gente, o Google está aí, dá para usar'". Ele explica que conhece mais do assunto porque já havia feito um curso técnico de Informática, mas que fora isso, ninguém orientou. Fabio diz sentir falta de algum tipo de orientação nesse aspecto, porque hoje sabe lidar com os adolescentes e os celulares, mas foi aprendendo na prática.
A Secretaria de Educação está desenvolvendo o Programa Conectividade, que, segundo Ana será implantado na escola entre 2018 e 2024, ela conta que o programa visa trazer internet sem fio para escola, para que seja disponível a internet para os professores e alunos.
*Esta matéria foi publicada originalmente no Portal do Rudge Ramos Online
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